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A GUERRA FRIA- 1947-1955 – OS TEMPOS DA BIPOLARIDADE

A GUERRA FRIA- 1947-1955 – OS TEMPOS DA BIPOLARIDADE

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e derrotadas as potências totalitárias na Europa e Ásia, outra questão começava a tomar corpo nas relações internacionais: os soviéticos, outrora aliados contra o nazifascismo, voltavam ao status de inimigos das democracias ocidentais.

O INÍCIO DA BIPOLARIDADE

A Grã-Bretanha, tradicional potência europeia, arrasada e esgotada, não tinha condições de zelar pelo equilíbrio europeu. Os Estados Unidos passaram a assumir o papel de liderança mundial desempenhado pelos ingleses até então.

O discurso do presidente Harry Truman ao Congresso, em 12 de março de 1947, solicitando auxílio econômico para Grécia e Turquia, demonstra a emergência dos Estados Unidos como nova potência mundial, em detrimento da Grã-Bretanha, exaurida por quase seis anos de guerra. A Doutrina Truman, explicitada no artigo Três fontes da conduta soviética, de George F. Kennan, publicado em Foreign Affairs, determinou a linha de conduta externa americana do pós-guerra: a contenção do comunismo.

Eis parte do discurso de Truman que seria a tônica da política externa dos Estados Unidos até o colapso do sistema soviético no final da década de 1980:

Os Estados Unidos receberam do governo grego um apelo urgente de assistência financeira e econômica. Os relatórios preliminares da Missão Econômica Americana, ora na Grécia, e os relatórios do embaixador americano na Grécia corroboram a declaração do governo grego de que a assistência se faz imperativa para que a Grécia sobreviva como nação livre.
A própria existência do Estado grego é hoje ameaçada pelas atividades terroristas de milhares de homens armados, dirigidos por comunistas, que desafiam a autoridade do governo em vários pontos.
A Grécia precisa receber assistência para poder tornar-se uma democracia capaz de sustentar-se e respeitar-se.
Aos Estados Unidos cabem fornecer essa assistência.
A vizinha da Grécia, a Turquia, também merece nossa atenção.
Acredito que a política dos Estados Unidos deve ser a de apoiar os povos livres que estão resistindo à subjugação tentada por minorias armadas ou por pressões vindas de fora.
Solicito, portanto, ao Congresso, que autorize o presidente a prestar assistência à Grécia e à Turquia no montante de 400 milhões de dólares.
Além dos fundos, solicito ao Congresso que autorize o envio de pessoal civil e militar americano à Grécia e à Turquia, a pedido desses países.

A máxima moral de Washington de “passar ao largo das alianças permanentes” perdeu seu sentido. Nada mais que acontecesse no mundo seria estranho aos Estados Unidos. A despeito do discurso ideológico dos líderes norte-americanos apelarem para o idealismo de Woodrow, isto é, a defesa dos valores de democracia e liberdade, EUA e URSS travaram, em realidade, uma verdadeira batalha por áreas de influência.

O intervencionsimo estava associado diretamente com as questões de segurança nacional. Os presidentes americanos passariam a seguir a “Teoria da Contenção”, desenvolvida por George Kennan, isto é, a ideia de que a área de influência soviética deveria ficar restrita aos limites obtidos ao final da Segunda Guerra Mundial. A contenção foi colocada em prova, com vitórias para ambos os lados, diversas vezes: Berlim (1949), Coreia (1950-53), Cuba (1962), Vietnã (1961-75) e Afeganistão (1979).

A principal característica deste período (1945-89) foi a ausência de um confronto direto entre norte-americanos e soviéticos, pois devido aos armamentos nucleares os soviéticos detonaram sua primeira bomba atômica em 1949, ambos os governos temiam uma guerra nuclear. O pensador francês Raymond Aron, um dos grandes especialistas sobre Guerra Fria, sintetizou o período com a máxima “paz impossível, guerra improvável”.

O primeiro campo de disputa da Guerra Fria foi o continente europeu. Pela Conferência de Potsdam, a Alemanha ficaria dividida em quatro zonas de ocupação, estabelecidas pelos três grandes mais a França. A Alemanha acabaria ficando dividida pelo embate ideológico em República Federal da Alemanha (Ocidental) e República Democrática da Alemanha (Oriental). Ademais, a cidade de Berlim, capital do III Reich, também seria dividida entre os aliados.

Berlim Ocidental era, portanto, uma ilha de prosperidade econômica dentro da zona de ocupação soviética. Os norte-americanos, interessados em fazer propaganda do regime democrático e capitalista contra o socialismo soviético, começaram a investir vultuosas somas na economia berlinense como forma de desenvolver sua parte de ocupação da cidade. Era o início de um processo denominado de Milagre Alemão.

As décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial são caracterizadas como uma época em que as sociedades capitalistas desenvolvidas alcançaram um significativo nível de produção industrial, baixos índices de desemprego e manutenção dos preços de bens e serviços. O período do início dos anos 50 até a década de 70, quando ocorreram as crises do petróleo, recebeu inúmeras denominações pelos historiadores: “era do ouro”, “milagre keynesiano”, les trente glorieuses, afluent society etc., termos que procuram sintetizar o boom econômico do mundo capitalista desenvolvido no pós-guerra.

Os Estados Unidos contribuíram decisivamente para a prosperidade econômica europeia através do Plano Marshall (1947), programa de ajuda financeira para a reconstrução da Europa cujos objetivos eram fortalecer os países capitalistas e anular a influência do comunismo na Europa Ocidental. O Plano Marshall foi oferecido para todos os países europeus, sem restrições aos regimes socialistas. A União Soviética, contudo, preocupada em manter sua zona de influência sem interferência norte-americana, proibiu a aceitação de ajuda do Plano Marshall. Os soviéticos acabariam organizando o Comecon (1949), espécie de bloco econômico dos países socialistas. A Iugoslávia, país libertado da presença nazista pelo guerrilheiro Josip Broz, o Tito, foi a única nação socialista a receber ajuda do Plano Marshall, revelando uma independência que incomodava a União Soviética.

No caso da economia da República Federal da Alemanha, houve uma Reforma Monetária, em 21 de junho de 1948, que criou o Deutsche Mark. A Reforma Monetária, planificada pelo técnico norte-americano Dodge, foi posteriormente acrescida por Ludwig Erhard, futuro ministro da Economia e chanceler da República Federal Alemã. A expressão “milagre econômico” (Wirtschaftswunder) foi utilizada já nos anos 50 para designar “a espetacular ressurreição da economia e sociedade”. Vários autores alemães escreveram sobre o tema: Wallich (Triebkräfte des deutschen Wiederaufstiegs, 1955); Reithinger (Soziale Marktwirtschaft 1958); Ludwig Erhard (Wohlstand für alle, 1964); Rach (Financiamento do milagre econômico).

O programa de desenvolvimento da economia alemã começou a provocar problemas no lado comunista. Muitas pessoas com alto nível de qualificação, como médicos, professores e cientistas, começaram a fugir para o lado ocidental em busca de melhor qualidade de vida e liberdades. Os soviéticos, inicialmente, estabeleceram um bloqueio aos acessos à cidade de Berlim Ocidental como forma de forçar os americanos a abandonarem a cidade. O resultado foi o primeiro teste da política da contenção, vencida pelos americanos, que estabeleceram uma ponte aérea como forma de manter o abastecimento da cidade. Em 1961, durante a presidência de Kennedy e do líder soviético Nikita Kruschev, os comunistas ergueram o Muro de Berlim como forma de evitar a fuga da população do lado comunista para o Ocidente.

Na Itália, o governo do pós-guerra lançou um plano decenal (1955-65), conhecido por Schema Vanoni, que propunha absorver o desemprego, reduzir os desequilíbrios entre norte e sul e incrementar as exportações para equilibrar a balança comercial. O “milagre italiano” foi favorecido pelo Plano Marshall, pelas demandas internacionais de bens industrializados, pelos investimentos decorrentes da adesão da Itália à Comunidade Econômica Europeia e pelo crescimento do mercado interno.

Além dos programas econômicos, a Guerra Fria ficou marcada pelas alianças militares. Inicialmente, os europeus ocidentais solicitaram ao governo norte-americano a organização de um tratado de defesa militar mútua. O governo Truman preconizou, então, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cujo princípio fundamental era um sistema defensivo que supunha que um ataque a um país-membro significava um ataque contra todos os signatários. A Otan era um recado direto aos soviéticos: um ataque contra um país-membro significaria uma guerra mundial. O objetivo era coagir os comunistas a abandonarem qualquer ação militar que pudesse ameaçar o Ocidente. Ironicamente, a única ação militar da Otan ocorreu após a Guerra Fria, em 1999, quando a organização bombardeou a Iugoslávia do ditador Slobodan Milosevic, acusado de promover genocídio contra a população albanesa do Kosovo. Os soviéticos, após a Otan e a remilitarização da RFA, responderam com a criação do Pacto de Varsóvia, em 1955. O Pacto de Varsóvia tinha os mesmos objetivos da Otan e foi acionado duas vezes: em 1956, contra os húngaros, e, em 1968, na chamada Primavera de Praga.

Na Ásia, região que sofreria com a Guerra Fria logo em fins da década de 1940, com a Revolução Comunista na China, os Estados Unidos patrocinariam a reconstrução econômica do Japão.

O Japão, diante da eminente vitória dos comunistas na China, começou a ser tratado pelos Estados Unidos como um aliado. O governo norte-americano diminuiu as reparações exigidas ao governo japonês, revogou as leis antitruste da administração MacArthur (1945-48) e concedeu auxílio financeiro para a reconstrução do país. O “Plano de Dez Anos” (1961-70) previa a duplicação da riqueza nacional. Na década de 60, o crescimento do Japão na taxa média anual de 11% foi o mais elevado do mundo.

Mao Tsé-Tung, que tem seu nome também escrito no Ocidente como Mao Zedong, após empreender a Grande Marcha, entre 1934 e 1936, quando o Exército comunista caminhou 10 mil km com o objetivo de revolucionar os camponeses contra o governo nacionalista de Chang Kai Check do Kuomitang, tornou-se vitorioso em 1° de outubro de 1949, tornando a China a mais nova nação comunista. O marxismo chinês, de linha camponesa, ficaria sendo conhecido como maoísmo.

A vitória da Revolução modificou irremediavelmente o mapa geopolítico asiático. Os chineses incorporariam o Tibet em 1950 e apoiariam os movimentos comunistas na Coreia do Norte e no Vietnã do Norte. Ademais, vitoriosa a revolução, surgiriam duas Chinas: a República Popular da China, comunista, e a China nacionalista ou Taiwan, também denominada de Formosa. Até a década de 1970, a única China reconhecida pela ONU era a nacionalista.

A REVOLUÇÃO CHINESA (1949) E OS SEUS IMPACTOS NA GUERRA FRIA

A Segunda Revolução Industrial, que ganhou grandes proporções desde meados do século XIX, acarretou em uma irreversível expansão das atividades capitalistas. O capitalismo de livre-concorrência, típico do início da Revolução Industrial do século XVIII, acabaria sendo substituído pelo capitalismo monopolista ou de oligopólio, isto é, aquele capitalismo em que as grandes empresas controlam o mercado. A Inglaterra, nação que saiu fortalecida com o final das guerras napoleônicas, em 1815, reforçaria sua posição de país hegemônico nas conquistas coloniais, com grande foco na África e na Ásia. Enquanto alemães e italianos ainda procuravam unificar seus Estados nacionais, russos e austríacos se entretinham com as questões balcânicas e a França juntava os cacos da aventura napoleônica, os ingleses abocanhavam a maior parte das regiões periféricas do sistema internacional, sobretudo, no continente asiático.

O governo imperial chinês, administrado pelos “estrangeiros” manchus da dinastia Qing, mantinha o país sob uma tutela baseada em valores aristocráticos e um rígido controle educacional e burocrático baseado na filosofia de Confúcio. Os mandarins, espécie de elite burocrática imposta pelas práticas manchus, administravam o Estado chinês. Os estrangeiros, sobretudo os ocidentais, eram tratados como “bárbaros” e proibidos legalmente de aprenderem o chinês, estabelecerem portos de comércio no país, empregarem chineses como criados, dentre outros pontos. O comércio inglês, contudo, não poderia ignorar o potencial do mercado chinês, que já contava com algo em torno de “400 milhões de almas”, para usarmos uma expressão dos missionários cristãos.

O principal produto inglês que inundava o mercado chinês, entretanto, não era nenhum produto têxtil de Manchester ou qualquer outro manufaturado. Os comerciantes ingleses, já devidamente instalados na região da Índia, investiam no tráfico de ópio para a China, aventura tentada anteriormente pelos portugueses. O governo imperial chinês, tendo em vista os prejuízos sociais e financeiros decorrentes deste comércio, ordena a apreensão de todo o ópio existente no porto de Cantão, única localidade autorizada pelo governo a comercializar com os “bárbaros”. Estava preparado o palco para a primeira guerra do ópio e a abertura total da China aos comerciantes ingleses.

Entre 1839 e 1842, juncos chineses tentavam inutilmente resistir ao avanço dos mais modernos navios encouraçados da Inglaterra, um dos grandes símbolos da Revolução Industrial. Ao término da guerra, os ingleses exigem que o governo imperial chinês reconheça o Tratado de Nanquim, também conhecido como “primeiro tratado desigual”. Os termos do tratado explicam facilmente seu apelido: os chineses eram obrigados a indenizar os ingleses, ceder a ilha de Hong-Kong como protetorado, abrir novos portos de comércio, aceitar a livre entrada de missionários cristãos, reconhecer o direito de extraterritorialidade, tratar a Inglaterra como “nação economicamente mais favorecida”, entre outras medidas.

O ódio dos chineses contra os estrangeiros ficava evidente ao sabermos que os europeus, no parque Shangai Bund, por exemplo, colocaram placas com os seguintes dizeres: “Não se permitem cachorros, nem chineses”. As convulsões sociais na China se fariam sentir pela revolta dos chineses cristianizados (taipings)e pelo movimento xenofóbico de sociedades secretas de artes marciais (boxers). Nos dois casos, o governo imperial Qing contratou mercenários estrangeiros para poder manter a ordem no reino.

Em 1911, contudo, a monarquia Qing seria substituída por uma República proclamada pelo líder nacionalista Sun Yat Sen, reconhecido como o “pai da China moderna”. A proclamação de Sun Yat Sen, entretanto, não traria mudanças imediatas ao país, que seria arrebatado por uma breve ditadura militar do general Yuan Che Kai. Em 1916, entretanto, desgastado pelas pretensões territoriais japonesas sobre a China e pelos movimentos sociais nacionalistas, Che Kai abandona o poder. Começa um período de total desorganização política e caos social e econômico, que somente seria superado com a unificação do poder central com a Revolução Comunista de 1949.

Durante todo este tempo, o poder na China foi disputado basicamente por três forças políticas. Os invasores japoneses, que chegaram a constituir um governo fantoche na Manchúria, rebatizada como Manchuko, tentavam implementar o Plano Tanaka, que previa a criação de um Império japonês asiático. Os nacionalistas, ou Sociedade para o Renascimento Nacional (Kuomitang), organização criada por Sun Yat Sen, a despeito de terem o mérito de organizar a República nos seus anos iniciais através de ideais liberais e democráticos, perderiam a legitimidade de empregar o termo “nacionalistas”, pois, após a morte de Sun Yat Sen, o partido seria guiado pelo general Chang Kai Check, um militar profundamente anticomunista. Os comunistas, a terceira e mais desacreditada força na disputa pelo poder na China, não tinham nem ao menos o apoio oficial da União Soviética, que desconfiava daqueles camponeses que foram doutrinados pelo marxismo. Após serem expulsos da base de Jiangxi pelos nacionalistas, os comunistas, liderados por Mao Zedong, empreendem a Longa Marcha (1935-36), estabelecendo uma nova base de guerrilha na província de Shaanxi.

Os nacionalistas e comunistas estabeleceram uma aliança provisória na luta contra os japoneses, sobretudo quando o “Império do Sol Nascente” iniciou sua guerra de ocupação nos anos de 1930. Chang Kai Check, contudo, considerava como prioridade do seu governo combater os comunistas. Chegou a declarar que “os japoneses eram uma ‘doença de pele’, enquanto os comunistas eram uma ‘doença de coração’”. A tática do Kuomitang era deixar que os comunistas se desgastassem, enfrentassem as tropas japonesas, para depois varrer do mapa o Exército Vermelho. A liderança do Exército de Libertação Popular, o “Exército de Mao”, como também ficou sendo conhecido, entretanto, fez com que os comunistas angariassem um importante apoio popular. Mao exigia dos seus soldados um comportamento disciplinado e cortês, sobretudo no que se referia ao tratamento para com os camponeses. Mao, ele mesmo um camponês da província de Hunan, entendia a necessidade de cooptar o apoio das classes campesinas para a sua revolução socialista. Os dogmáticos teóricos marxistas de Moscou condenavam este desvio maoísta, que ignorava por completo o potencial do insípido proletariado chinês.

Os anos que se seguiram à derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial foram decisivos para o Partido Comunista. Em agosto de 1945, os norte-americanos mediaram um encontro de Mao Zedong e Chang Kai Check na cidade de Chongqing para tentar criar um governo de união nacional e acabar com a guerra civil. O encontro de Chongqing foi um fracasso e os violentos embates de nacionalistas e comunistas prosseguiram.

Chang Kai Check, apesar do apoio material americano e de ter empreendido cinco campanhas de extermínio contra os comunistas, seria derrotado. Mao, o camponês de Hunan que detestava intelectuais, entra triunfante em Pequim em 1° de outubro de 1949. Chang Kai Check fugiria para a ilha de Taiwan (Formosa), protegido pela VII Frota de Guerra dos Estados Unidos. A questão do governo não comunista de Taiwan nunca foi resolvida entre Pequim e Taipé.

O novo governo comunista, aparentemente sintonizado com Moscou, começa a sofrer os primeiros abalos com a liderança de Stalin. O líder soviético chegou a comparar Mao com um nabo: vermelho por fora e branco por dentro. Mao Zedong, a despeito de obter algumas concessões do líder soviético em matéria de comércio exterior, não obteria transferência de tecnologia nuclear. Os soviéticos, desejosos de manter o monopólio da bomba atômica no mundo comunista, alegavam que suas armas eram suficientes para cumprir a função de um “guarda-chuva nuclear” contra o Ocidente. Mao Zedong, que já tivera seus atritos com os soviéticos na época da guerra civil, paulatinamente esfria suas relações com o Kremlin. Em 1950, com início da Guerra da Coreia, Mao envia um milhão de voluntários chineses para combaterem os sul-coreanos, apoiados pelos Estados Unidos. Mao, desdenhando o poderio militar norte-americano, tratava o gigante capitalista de “tigre de papel”.

No início de 1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Kruschev, sucessor de Stalin, morto em 1953, anuncia a desestalinização, isto é, a denúncia dos crimes de Stalin na década de 1930 contra membros dos Partido Comunista e o culto à personalidade do “grande irmão”. Mao, que já dava mostras de que a sua liderança pessoal deveria estar acima de qualquer possibilidade de liderança coletiva do Partido, afasta-se definitivamente da linha soviética. Mao considerava que a proximidade geográfica dos soviéticos __ e os problemas de fronteira decorrentes – tornava-os um inimigo potencialmente mais perigoso que os Estados Unidos.

Durante o VIII Congresso do Partido Comunista Chinês, realizado em 1956, Liu Shaoqui e Deng Xiaoping criticam o culto à personalidade de Mao Zedong e defendem uma liderança coletiva do Partido Comunista. Mao expurgaria, posteriormente, os dois líderes da cúpula do Partido.

Ainda naquele ano, Mao anunciaria o movimento das Cem Flores, o qual defende o slogan “que centenas de flores desabrochem, que centenas de escolas de pensamento floresçam”. Mao estava conclamando a crítica contra o Partido Comunista. Este movimento, contudo, tornou-se uma grande armadilha contra aqueles que ousaram tornar públicos os seus pensamentos contra a liderança comunista. Os elementos de oposição foram identificados e enviados para o campo para serem reeducados. Esta prática consistia em obrigar o inimigo do regime a aderir à ideologia comunista ou morrer de exaustão e maus-tratos nos campos de trabalho. Existia, até mesmo, uma cota de 5% a ser cumprida no sentido de descobrir elementos direitistas nas fileiras do Partido, mesmo que eles não existissem.

No plano interno, Mao Zedong lança um ambicioso projeto de desenvolvimento econômico chinês. O Grande Salto para Frente era um programa que propunha mecanismos para que a China ultrapassasse a produção industrial da Inglaterra em 15 anos. Para tal, previa promover a industrialização chinesa de forma descentralizada, junto às comunas agrícolas: camponeses abandonavam a lavoura para produzir aço, pequenas casas montavam fornos improvisados, utensílios domésticos eram confiscados para serem fundidos, portas de madeira eram retiradas para servirem de combustível para os fornos. O pretenso desenvolvimento siderúrgico do Grande Salto não obteve o sucesso almejado. Inclusive, neste período, as relações sino-soviéticas complicaram-se, ampliando a oposição interna ao Partido Comunista Chinês. A produção de alimentos através de comunas populares, o segundo pilar do programa, também foi um desastre: estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas morreram de fome por consequência dos erros políticos decorrentes do Grande Salto. Enquanto isso, a China exportava boa parte dos seus grãos para pagar as dívidas existentes com a União Soviética pela compra de armas na época da Guerra da Coreia.

Um dos maiores problemas do projeto era que os técnicos do Partido Comunista estabeleciam metas virtualmente impossíveis de serem alcançadas com o objetivo de agradar a liderança de Mao. Os comissários locais do partido maquiavam relatórios e falseavam informações com receio de serem rotulados de incompetentes ou contrarrevolucionários. Os poucos elementos do Partido que ousaram criticar a liderança de Mao, como, por exemplo, o general Peng Dehuai, foram expurgados do Partido e presos sob a acusação de serem contrarrevolucionários.

Apesar do fracasso do Grande Salto para Frente, Mao Zedong jamais seria responsabilizado pelo desastre decorrente. O “Imperador Vermelho”, tratado como infalível, será protegido de qualquer responsabilidade: a culpa deveria ser atribuída aos elementos burgueses e reacionários que ainda se encontravam nas fileiras do Partido.

A figura acima representa a imagem de Mao Zedong 

Em 1966, Mao Zedong, através de sua quarta esposa, Jiang Qing, lança a Grande Revolução Cultural do Proletariado, nominalmente um programa para expurgar da sociedade chinesa os valores ocidentais, burgueses, decadentes e reacionários. Na realidade, a Revolução Cultural seria utilizada por Mao para eliminar do Partido todos aqueles elementos que, de alguma maneira, ainda questionavam sua liderança. Os Guardas Vermelhos, jovens estudantes chineses, contavam com a proteção do Exército e com a simpatia do governo. O general Lin Biao, comandante do Exército e fiel seguidor de Mao, lançara o Livro Vermelho de Mao Zedong, em 1964, uma pequena publicação com máximas do Grande Timoneiro. O Livro Vermelho tornaria-se o símbolo da Revolução Cultural. Os direitos autorais deste livro tornariam Mao um dos homens mais ricos da China.

A Revolução Cultural, que teve no Movimento das Cem Flores o seu grande antecedente, foi a última manifestação de massas de Mao contra todas as lideranças do Partido Comunista que ainda tinham algum grau de independência ou que defendiam uma postura de liderança coletiva do Partido em detrimento do culto maoísta, como, por exemplo, Deng Xiaoping e Liu Shaoqui. A esposa de Mao, Jiang Qing, juntamente a outras lideranças do Partido, formaria um grupo que seria responsável pela fiscalização e pela censura de toda a produção cultural.

Os Guardas Vermelhos, contudo, quando começam a mostrar excesso de ousadia nos ataques contra determinados elementos do Partido ou contra os estrangeiros – Liu Shaoqui chegou a ser espancado por jovens estudantes e a representação diplomática inglesa chegou a ser invadida – são freados: Mao dá ordens aos estudantes que voltem para as escolas e para as universidades. Os mais recalcitrantes são presos, mortos ou enviados para os campos para serem reeducados pelo trabalho, tal qual os elementos burgueses que eles combateram em nome do presidente Mao.

Em 1970, o “pensamento de Mao Zedong” é oficialmente reconhecido como a linha ideológica do Partido Comunista chinês. Crescem as tensões entre a União Soviética e a China ao longo da extensa fronteira. A China chega a se mobilizar para uma guerra e túneis são escavados por toda a cidade de Pequim para prevenir um ataque nuclear (Projeto 19 de maio). Mao inicia uma discreta política de aproximação com os Estados Unidos. O general Lin Biao, insatisfeito com a política externa de Mao e ambicionando o poder, tenta um golpe de Estado que ficaria sendo conhecido como “projeto 5-7-1”. O golpe fracassa e o general Lin Biao morre, num desastre de avião, ao tentar fugir do país.

Em 1972, numa jogada política que ficaria conhecida como a “diplomacia do pingue-pongue”, Mao Zedong, com a saúde totalmente debilitada, recebe o presidente americano Richard Nixon em Pequim. Em 9 de setembro de 1976, após a falência de seus órgãos vitais, a equipe médica de Mao Zedong anuncia oficialmente a morte do Grande Timoneiro. O corpo de Mao, assim como dos líderes comunistas Lênin, Stalin e Ho Chi Minh, seria mumificado. Deng Xiaoping, o líder comunista expurgado que foi reabilitado por Mao pouco antes de sua morte, assume o poder na China comunista e afasta o grupo da Revolução Cultural, apelidada de “gangue dos quatro” do governo. Deng Xiaoping declara: “Eu não me importo se o gato é preto ou branco. Enquanto for bom para caçar ratos, ele serve”, sintetizando bem o pensamento econômico do novo premiê.

A GUERRA DA COREIA

A Guerra da Coreia foi o primeiro teste militar da contenção. Defender Berlim do isolamento soviético foi uma tarefa relativamente simples se comparada com a necessidade de convencer a opinião pública norte-americana da necessidade de enviar milhares de soldados para a longínqua Coreia em nome do combate ao comunismo.

A guerra começou quando o Norte, apoiado pela União Soviética e pela China comunista, atacou a Coreia do Sul, de tendência capitalista, com o objetivo de unificar a península sob o regime comunista. Os Estados Unidos levaram o caso para o Conselho de Segurança da ONU que, juntamente com a Assembleia Geral, é o mais importante organismo da instituição. Os membros permanentes do Conselho de Segurança gozam do direito de vetar propostas militares. A proposta norte-americana consistia em enviar tropas da ONU para defender a Coreia do Sul da agressão comunista. O projeto foi aprovado por norte-americanos, ingleses, franceses e chineses de Taiwan, que ocupariam o assento permanente do Conselho de Segurança até o início da década de 1970. Os soviéticos, protestando pelo fato de a China comunista não ter sido reconhecida como país-membro do conselho, boicotou a votação, tendo seu voto registrado como “abstenção”. Como abstenção não configura veto, a proposta americana foi aprovada.

A Guerra da Coreia, que perdurou de 1950 a 1953, caracterizou-se por ser limitada, empregando armas convencionais, e equilibrada, pois não houve vencedores. A guerra confirmou a tendência das superpotências de encontrar um ponto de equilíbrio de tal forma que não ultrapassassem um determinado limite, evitando que um choque localizado pudesse colocar em risco a existência dos grandes competidores. No final, a guerra terminou exatamente no mesmo ponto em que começou: o paralelo 38º. O conflito coreano provou aos europeus que os americanos não estavam dispostos a abandonar seus aliados contra a ameaça de expansão soviética.

O MACARTISMO

A década de 1950 inaugurou o período da “histeria vermelha” nos Estados Unidos. Os primeiros sintomas do perigo comunista, entretanto, surgiram antes. Em 1948, Whittaker Chambers, ex-agente de Moscou, em depoimento para a Comissão de Atividades Antiamericanas, denunciou Alger Hiss, funcionário do Departamento de Estado, de ter entregue cópias de documentos secretos durante os anos de 1930. Hiss, que negara o envolvimento no caso, foi condenado em 21 de janeiro de 1950 a cinco anos de prisão por perjúrio. A imprensa apelidou o processo Hiss de “caso da abóbora”, pois Chambers escondera os documentos secretos dentro de uma abóbora em uma fazenda.

A figura acima representa a imagem do Joseph McCarthy.

Outros dois graves casos despertaram a opinião pública norte-americana para a infiltração comunista: em 1949, Judith Coplon, funcionária do Departamento de Estado, foi condenada por passar documentos secretos de contraespionagem para um agente soviético; em 1950, foi preso o cientista Klaus Fuchs, alemão naturalizado britânico, que passara informações sobre o desenvolvimento da bomba atômica americana para a União Soviética.

O presidente Harry Truman já havia promulgado, em 1947, a “ordem de lealdade” e criado o Conselho de Revisão da Lealdade, com a finalidade de investigar funcionários federais que estivessem ligados a associações consideradas antiamericanas. Entretanto, novas leis de “segurança interna” surgiram. A Lei de McCarran exigia o registro de grupos comunistas e a proibição de imigração de indivíduos que já tivessem sido membros de organizações totalitárias.

A cruzada anticomunista eternizaria um nome: Joseph R. McCarthy. Este senador, eleito em 1946 pelo estado de Wisconsin, impulsionou sua carreira política em 9 de fevereiro de 1950, ao anunciar publicamente que o Departamento de Estado na administração de Dean Acheson tinha centenas de funcionários “notoriamente comunistas”. O senador, gozando de sua imunidade parlamentar, chegou a acusar os generais George C. Marshall e Dwight D. Eisenhower de conivência com os soviéticos. McCarthy, vilipendiando os direitos civis, colocava-se sob os holofotes da América.

Um dos principais grupos a sofrer com as perseguições do macartismo foi a classe artística norte-americana. Os grandes estúdios e redes de televisão, sob pressão de patrocinadores e do Comitê de Atividades Antiamericanas, adotavam uma “lista informal” que excluía do mercado profissionais supostamente vinculados a atividades subversivas ou que apenas se recusavam a colaborar com o Comitê, denunciando colegas. Carreiras profissionais eram arruinadas; vidas interrompidas.

Em 1999, na 71ª cerimônia de entrega dos prêmios da indústria cinematográfica, Elia Kazan, diretor de filmes como Vidas amargas, Um bonde chamado desejo e Sindicato de ladrões, recebeu um Oscar pelo conjunto de sua obra. Kazan, então, com 89 anos, sofreu um grande constrangimento durante a cerimônia: parte da plateia recusou-se a aplaudi-lo. Em 1952, perante o Comitê de Atividades Antiamericanas, Kazan delatou o nome de oito colegas como “membros do Partido Comunista”.

O cinema, que na década de 1950 sofrera com o macartismo, brindou-nos posteriormente com filmes que retratam esta “caça às bruxas de Salem”. Em Culpado por suspeira, Robert De Niro vive um famoso diretor que tem sua promissora carreira comprometida pelo seu passado político. Woody Allen, no filme Teste de ferro por acaso, interpreta um testa de ferro de escritores estigmatizados pela lista de suspeitos.

A demagogia macartista, contudo, teve um final merecido e inglório. Em 1954, o Senado dos Estados Unidos aprovou uma resolução de censura contra Joseph McCarthy. O relatório do Comitê Legislativo concluiu que o senador transgrediu suas funções ao “lançar a desonra e o descrédito ao Senado, obstruindo os processos constitucionais e deslustrando-lhe a dignidade”. McCarthy retornou ao ostracismo.

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