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A SEMANA DE ARTE MODERNA

A SEMANA DE ARTE MODERNA

Após a República da Espada, o país conheceu uma série de presidentes civis ligados ao setor agrário, fortalecidos pela economia do café, beneficiando os grandes proprietários rurais de São Paulo e de Minas Gerais.

MOMENTO HISTÓRICO

Por outro lado, as grandes cidades brasileiras conheceram um período de transformação em que se tornavam cada vez mais urbanas, especialmente a cidade de São Paulo, em virtude do avanço notável da indústria.

A Primeira Grande Guerra foi fator preponderante para a industrialização paulistana e sua consequente industrialização. Surgia, assim, uma burguesia industrial cada vez mais fortalecida economicamente, mas ainda marginalizada pela política governamental, voltada tão somente à exportação do café.

Socialmente, São Paulo era palco de uma diversidade de tipos: imigrantes europeus, migrantes nordestinos, ex-escravos, burgueses, operários, senhores de café, enfim, toda a espécie de gente existia na nova metrópole. Econômica e politicamente, a cidade era agitada pelos movimentos operários, pelo surgimento de grupos anarquistas e comunistas e pelo intenso conflito entre o urbano e o rural. Greves e revoltas eclodiam e a cidade vivia a tensão da modernidade.

VANGUARDA NACIONAL

Nas primeiras décadas do século XX, a arte brasileira começou a demonstrar as influências que vinham da Europa, principalmente na pintura e na escultura. Segall, pintor lituano naturalizado brasileiro, expõe telas de caráter marcadamente expressionistas, Anita Malfatti faz uma exposição pela qual recebe duras críticas de Monteiro Lobato e vários outros artistas plásticos, como Victor Brecheret e Di Cavalcanti já buscavam alguma sintonia com os movimentos europeus.

Na literatura, Oswald de Andrade é o precursor de alguns passos rumo a novas experiências estéticas: sua viagem para a Europa apresentou-lhe o Futurismo de Marinetti. Segue-se a Oswald um conjunto de jovens escritores ansiosos por rupturas: Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira e Graça Aranha.

Engana-se aquele que tem em mente que a Semana de 22 representou uma revolução, um movimento popular rumo a uma nova perspectiva estética ou talvez a rejeição da população da arte já estabelecida. Os vanguardistas brasileiros, em sua maioria, tinham origem rica, muitos deles ligados aos barões do café, trazendo inúmeras contradições ao movimento: por um lado, a exaltação da modernidade, da urbanidade e, por consequência, da própria cidade de São Paulo; por outro a crítica feroz à burguesia, principalmente aquela industrial, motivada indubitavelmente pela condição social e histórica dos modernistas.

Em um contexto político de afirmação do estado de São Paulo e a rivalidade com a capital federal, houve diversos apoios expressivos às ações desses novos artistas. Chefes políticos apadrinharam artistas em dificuldades financeiras, inclusive bancando bolsas de estudo no exterior. A Semana de Arte Moderna contou com patrocinadores importantes financeira e economicamente além de ter a simpatia dos dirigentes políticos da região.

No plano estético, é certo também que o movimento ainda era bastante desorganizado, sem uma linha própria, uma personalidade. Não foram raras as vezes que a crítica limitou a produção dos modernos a mera cópia do futurismo italiano, causando grande revolta nos líderes da vanguarda brasileira, especialmente em Oswald de Andrade e Plínio Salgado. A ideia da Semana tenta dar uma resposta a essa desorganização, à falta de unidade de um movimento que nem era ainda um movimento.

Estava claro, como afirmou Oswald que eles não sabiam o que queriam, mas sabiam o que não queriam.

POLÊMICAS E UNIÃO

Ironicamente pode-se afirmar que Monteiro Lobato, um dos maiores críticos do Modernismo, tem grande importância na construção da Semana e do novo movimento literário. Em 1917, Anita Malfatti faz sua segunda exposição de pinturas em São Paulo, nas quais apresenta obras expressionistas, que retratavam figura shumanas distorcidas, caricaturais. O que parecia ser apenas mais uma exposição de “arte nova” transformou-se em enorme polêmica quando o Estado de S. Paulo publica o artigo assinado por Monteiro Lobato, intitulado Paranoia ou mistificação, no qual critica duramente o trabalho da artista, sem ao menos ter ido à sua mostra:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.

(…)

A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.

Embora se deem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranoia e a mistificação.

De há muito que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios.

A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura.

(…)

Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & Cia.

(…)

Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma ideia, mas sim desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador.”

Para defender a jovem pintora, reuniu-se um grupo de artistas como Oswald e Mario de Andrade, Di Cavalcanti, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e muitos outros. Em verdade, mais que respaldar Anita, faziam a defesa da arte moderna, da sua própria expressão. Estava lançada a semente da Semana.

Anita, de personalidade tímida, largou o modernismo. Caiu em forte depressão e chegou a abandonar a pintura por quase um ano. Apesar de ter participado da Semana de 22, jamais voltou a pintar como antes, adotando um estilo mais conservador, sem conseguir alcançar grande reconhecimento de público ou crítica.

Acentuando as polêmicas, Mário de Andrade publica, anos mais tarde, uma série de ensaios em que critica, abusando da ironia e do sarcasmo, os poetas parnasianos, tratados de Mestres do passado. Todas as polêmicas levavam a um amadurecimento estético em torno de ideais modernos. A adesão de Graça Aranha, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, confere inesperado respaldo e seriedade intelectual ao movimento, criando condições objetivas de uma semana que apresentasse a arte moderna.

PARA “CHOCAR A BURGUESIA”

No final de janeiro de 1922 uma nota publicada no Estado de S. Paulo avisava que haveria uma “Semana de Arte Moderna”, dando início aos preparativos do evento que ocorreria no Teatro Municipal de São Paulo entre 11 e 18 de fevereiro do mesmo ano. Desde o primeiro até o último dia foram expostas pinturas e esculturas de Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Di Cavalcanti, Victor Brecherete entre outros.

Com ingressos caros e vendidos em locais de frequência da elite econômica paulistana, a Semana não foi, ao contrário do que muitos pensam, um evento popular. Pensada e realizada pela nata da classe média alta de São Paulo, não apresentava propostas de natureza política, limitandose à renovação estética das artes, com duras críticas ao conservadorismo, representado pelas escolas artísticas anteriores.

Essa crítica pouco teria de um real fundo nacionalista, visto que a Semana de Arte Moderna realizou-se a fim de divulgar o ideal artístico europeu, exatamente o que sempre acontecera na literatura brasileira. O evento guardou os dias 13, 15 e 17 de fevereiro para apresentações de palestras, leituras e apresentações de música e dança.

Coube a Graça Aranha abrir o primeiro dia de conferências com a palestra “A emoção estética na arte moderna”, dando suporte acadêmico ao movimento. A conferência não chegou a causar comoção, ficando a polêmica da noite pela música de Ernani Braga, que fazia uma sátira a Chopin, causando reclamações e protestos, inclusive de artistas que iriam apresentar-se no evento, como a pianista Guiomar Novaes.

O segundo dia foi o mais conturbado, devido ao comportamento da plateia que vaiou, latiu, relinchou, gritou e aplaudiu a leitura de poemas e fragmentos de prosa apresentados por Oswald e Mário de Andrade. A reação foi tão inesperada que Mário de Andrade, no intervalo entre as partes do programa, foi praticamente impedido de fazer uma pequena palestra sobre as obras ali expostas, sendo caçoado e ofendido duramente. Sobre o fato, chegou a dizer, anos mais tarde: “Como pude fazer uma conferência sobre artes plásticas, na escadaria do teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a valer?”

O ponto alto da segunda noite, entretanto, foi a leitura do poema “Os sapos”, de Manoel Bandeira, lido por Ronald de Carvalho, em uma crítica aberta à estética parnasiana, tida como o modelo de literatura nacional. O público urrava e vaiava, fazendo coro de modo a ironizar o refrão “Foi… – Não foi!…”.

O último dia, já com o teatro esvaziado, teve um público mais respeitoso para acompanhar o último dia do festival. As únicas vaias aconteceram na entrada do maestro Heitor Villa-Lobos, que trajava a tradicional casaca, mas com chinelos de dedo! A atitude foi interpretada como uma ação futurista manifestando-se na hora. Depois, Villa-Lobos explicaria que não se tratava de vanguardismo, mas de um calo que não o permitiria calçar seus sapatos…

Os jornais acompanharam o que ocorria no Teatro Municipal e apesar de alguns deles tecerem críticas e fadarem o movimento ao fracasso, os artistas tiveram garantido um bom espaço de defesa nos periódicos, até porque muitos deles tinham colunas nos jornais e fizeram eles mesmos sua própria crítica – bem mais favorável, é claro. Não se pode esquecer que os modernistas contavam com o apoio de parte da imprensa além de importantes setores econômicos e políticos.

Quando analisada isoladamente, a Semana de Arte Moderna não parece merecer tanta atenção. Além das vaias pouca coisa aproveitável ocorreu no evento. Os jornais que cobriram o evento não foram tantos e nem dedicaram tanto espaço assim ao festival, somado à própria defesa dos artistas nas colunas em que produziam; a opinião pública manteve-se distante do evento e, fora a alta sociedade paulistana, muitos nem souberam de sua realização.

Contudo, pode-se dizer que seu saldo histórico é positivo – mesmo que alguns vejam como produto de publicidade – em razão de apresentar uma proposta de ruptura e de renovação, ainda que não sistematizadas e carentes de um projeto estético comum. Outro ponto positivo foi conseguir reunir uma gama de artistas de diferentes áreas, aproximando literatura, artes plásticas, músicas e danças. O mais notável da semana foi criar a polêmica, lançar novas ideias e criticar os modelos técnicos e estéticos vigentes. Foi o pontapé inicial para que se pudesse produzir uma nova arte no país e seus reflexos ainda se fazem perceber na arte que se produz atualmente.

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